A amamentação não pode ser sinônimo de dor, não deve. Não é uma escolha baseada na vontade de ser mártir da amamentação do seu filho. Ela deveria ser pautada na vontade intrínseca plenamente consciente de que o ato de amamentar é a melhor escolha e a única forma do seu bebê receber um alimento totalmente único e insubstituível e junto com ele, receber todo o cuidado, carinho, afeto e amor em sua primeira relação humana.
Amamentar não é fácil, dói, gera desespero, pois a nossa mama extremamente sensível ao toque trava uma verdadeira batalha contra a boquinha ainda não treinada do bebê. E até que ela se torne um prazer de fato, muitos e muitos episódios serão sentidos na pele por você. A dor é um mecanismo de alerta, que sinaliza que ainda não está bom e que pode melhorar.
Interessante que, em nossa sociedade, muitas vezes o grau de sacrifício dado à amamentação torna-se quase insuportável até de ouvir. Parece que o ato do aleitamento prolongado já é demais, e que a mãe não pode se sacrificar tanto assim… E fico pensando no quanto nos sacrificamos para suportar um bom relacionamento no trabalho, suportar horas intermináveis no trânsito, suportar cobranças por metas, suportar… suportar… suportar, mas no nosso inconsciente emocional não podemos suportar um aleitamento prolongado ou dedicar tempo ao nosso bebê, pois isso seria já um conceito totalmente alienado. Podemos suportar muitas coisas, mas somos tolhidas de dedicar um tempo crucial e precioso que é amamentação no primeiro momento da vida de nossos bebês.
Quando a escolha da amamentação for baseada na nossa vontade, ela será plena e extremamente prazerosa. Temos também o direito de decidir pelas nossas vontades e para que estas vontades sejam de fato reais e significativas, elas estão dentro de um sistema complexo de escolhas. Boas escolhas. Escolhemos em algum momento da vida a nossa carreira, com quem iremos casar, aonde iremos viver, no que iremos trabalhar, quantos filhos iremos ter e cada uma dessas escolhas demandam tempo, planejamento e dedicação. Assim também deveria ser a amamentação: eu escolho um momento na minha vida para amamentar o meu bebê como ele deve ser realmente amamentado.
Uma escolha baseada principalmente em uma doação genuína, pura, e livre de cobranças. Amamento porque assim desejo, porque escolhi e não por uma recompensa futura do meu bebê, da minha família ou da sociedade. Faço neste momento porque é o melhor a ser feito e essa responsabilidade a mim pertence. Quando mães conscientes de todas as interfaces que envolvem a amamentação, instruídas e amparadas por auxílio profissional, forem de fato encarar o desafio de amamentar e nutrir uma vida humana, todo esse negativismo ao redor da amamentação irá desaparecer.
Precisamos ouvir a nós mesmas primeiramente, sabe o que o nosso corpo quer nos dizer. Depois, precisamos ouvir nossos bebês, em uma sintonia tão profunda e íntima que ao sinal do primeiro choro, ao invés de darmos lugar para o desespero, a angústia e a culpa, sabermos compreender prontamente a sua queixa.
Não tenho dúvidas que é também a vontade do bebê apenas amamentar no seio de sua mãe. E de fato, quando ambas as vontades estiverem niveladas e em um nível satisfatório de harmonia, ela será plena e livre de qualquer sobra de dúvidas deste momento único e tão especial da nossa vida materna.
Amamentar exige também de nós abstrairmos de todo o nosso entorno e de termos um olhar apenas para esta relação: você e o seu bebê.
Por Simone de Carvalho – Pedagoga – mestre em psicologia da educação.